quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Inverno Final

Minha morte não doeu. Dava pra sentir a alma saindo do coração. Foi como o verdadeiro suspiro de vida - e percebi que o que passei o tempo todo procurando estava dentro de mim. Enfim pude penetrar na superfície do mundo e compreender mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, e infelizmente só então notei que tudo é muito mais simples do que pensamos.
Levei ao chão o véu da ignorância e finalmente desmascarei os fantasmas que assombram o conhecimento humano. E vi que (quase) tudo que julgava conhecimento na verdade era uma realidade falsa em que se explicavam coisas que não existiam.
Tudo que nos disseram era uma mentira, incluindo as cartas do governo e nossas certidões de nascimento. E por fim nos descobrimos, no coração do outono, berço do inverno. As folhas secas e amarelas que caíam no parque eram como um rio de ouro, e íamos remando em nosso banco de madeira com nosso amor e com a certeza de que o céu nunca mais ficaria azul como no dia em que nos conhecemos. Essa certeza foi o que me corroeu, por uma vida. E agora, peregrino nesta terra que chamam de paraíso, mas não sei porque dão esse nome se você não está aqui.

0 comentários:

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial