quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Pizza

Meu vestido já estava amassado e minha bolsa pesava no ombro. Ele me esqueceu. Foi aí que vi o estranho vindo até mim.
Uma mão no bolso, a outra segurando o cachimbo. O cabelo meio bagunçado, assim, pelo vento que batia e fazia frio. Era jovem, mas a barba preguiçosa lhe dava uns anos a mais. Andou até mim e falou "Boa noite". Não havia desejo naquele olhar, tampouco maldade. Tirou um fósforo do bolso pra acender o fogo que apagara e queimou o dedo, desajeitado, rindo largo. Pedimos uma pizza de calabresa e um suco de laranja. Ele apagou o cachimbo e o suco chegou. Encheu o copo mas não bebeu, e ficou me contando quem era, que era estranho conversar com outra estranha mas tinha gostado de mim. Falei que gostei dele, também, com um pouco de descaso proposital, mas pra ele não fazia diferença. Eu adorei. Principalmente o bom humor.
Chegou a pizza, muito cheirosa, mas comi pouco, com vergonha. Ele comeu o resto inteiro, me perguntando ao final de cada pedaço se poderia pegar mais um. Me disse que eu comia muito pouco. Aí pediu uma cerveja. Bebeu sem pressa. Conversamos sobre música. Aí pediu outra. Descobri, entre uma conversa e outra, que estudamos juntos em algum ano distante, na escola. Até lembrei um pouco dele. A outra cerveja acabou.
Me deu boa noite. Acendeu o cachimbo de novo, levantou e foi andando. Dobrou uma esquina escura. Fiquei com vontade de uma pizza e de um beijo.

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